domingo, 27 de março de 2011

Serenity o filme (ou a Saga de um Diretor)

Depois da grande expectativa dos fãs da antiga série “Firefly” (que foi precocemente cancelada pela emissora FOX), o roteirista-diretor e criador da série Joss Whedon relança o longa metragem "Serenity – A Luta pelo Amanhã" (2005), uma espécie de continuação dos últimos episódios da antiga série “Firefly”. Joss Whedon para quem não conhece é o renomado criador das séries “Buffy – A Caça Vampiros” e “Angel”, além de muitos outros habilidosos trabalhos como roteirista de cinema. Por exemplo, o do premiado Toy Story a animação que ganhou o Oscar de melhor roteiro original em 1995.
Digamos que Serenity foi uma espécie de trabalho de superação e desabafo do diretor Joss Whedon. Depois de amargar o “corte” de sua série Firefly antes mesmo de terminar a primeira temporada e depois de várias tentativas frustradas de ressuscitar a série, o diretor demonstrou, de forma até mesmo emocional, o quanto acreditar num projeto requer muito esforço e paixão por aquilo que se faz e acredita. Então, logo depois de conseguir a aceitação e o din-din para a produção de seu longa o diretor confirmou que, além de ser ótimo roteirista e escritor, é também um talentoso diretor de filmes. Neste caso, o apoio dos fãs foi matéria prima importantíssima para a continuidade e conclusão do projeto. .............................................!Sim, ele é um cara legal!

Confesso que nunca assisti a série “Firefly” e acredito que ela nunca foi rodada no Brasil (talvez pela Fox), entretanto percebi um certo clima de “já trabalhamos juntos” entre o elenco e personagens do filme. Não por acaso, realmente o elenco é o mesmo da antiga série “Firefly”, o que deve ter agradado muito aos fãs da série. O ambiente descontraído durante as filmagens, o conhecimento do roteiro e dos personagens, a afinidade com o diretor são elementos que contribuíram e muito para que a trama do filme fluísse de forma natural e até mesmo empolgante. Os efeitos especiais são ótimos e principalmente (o que me deixou contente) sem grandes apelações. As cenas de lutas são também surpreendentes, com destaque para atriz Summer Glau que utilizou de suas habilidades como bailarina para incorporar a “perturbada” e “boa de briga” personagem River. Mas vamos à história do filme.

HISTÓRIA: Há quase 500 anos no futuro, a humanidade quase que praticamente acabou com todos os recursos naturais do planeta. A solução foi transmigrar para um novo sistema solar e construir uma nova civilização. Este novo sistema é dirigido e controlado pela “Aliança” (uma espécie de herdeira da fusão das duas últimas grandes potencia mundiais EUA e China) que tem como objetivo crucial disseminar um “projeto civilizador” para todo o sistema por meio de uma utopia de “um mundo melhor” de alta tecnologia e unificação. Mas como todas utopias perfeitas nesta história ainda existe certas brechas e sujeiras por debaixo do tapete. O que acontece é que a “Aliança” desencadeia uma constante ditadura da “civilização”, entrando em confronto com planetas periféricos e independentes aos quais não aceitam seu ponto de vista. O diretor Joss Whedon demonstrou que mesmo há 500 anos no futuro ainda existe os mesmos dilemas éticos e morais que infligem na atualidade. A guerra entre a “Aliança” e os “Independentes” termina com a vitória da “Aliança” na batalha do Vale Serenity.

FILME: Entretanto, a história do filme começa anos depois de toda essa confusão. Tudo começa quando uma garotinha prodígio River (Summer Glau) é utilizada pela “Aliança” para a realização de experiências científicas com o objetivo de criar uma “super arma” humana. Depois de ser resgatada dos laboratórios pelo irmão Dr. Simon (Sean Maher), a dupla conseguirá um último refúgio na nave pirata chamada Serenity. Esta nave é comandada pelo truculento capitão Malcolm “Mal” Reinolds (Nathan Fillion) que lidera sua equipe realizando pequenos tranbiques e assaltos pelo espaço. Entretanto, o capitão e sua tripulação não estão conscientes do perigo que estão correndo ao manter River em sua nave. Agora a “Aliança” tem planos de deter em suas mãos sua maior paranormal criada em laboratório. Para este serviço é designado um assassino frio e metódico interpretado pelo ator Chiwetel Ejiofor para perseguir e encontrar River, mesmo tendo que passar por cima de tudo e de todos. A trama se segue por meio dessa caçada de tirar o folêgo com muitas cenas de ação e reviravoltas.

PERSONAGENS:
Serenity: além de ser o nome do filme e o nome da última batalha entre a “Aliança” e os “Rebeldes independente”, Serenity também é o nome da nave tripulada por essa gangue de forasteiros. A nave apesar de ter uma ótima performance, sempre necessita de reparos e vive quebrando ou perdendo alguma peça. Até parece meu carro.
Malcolm Reinolds: também conhecido como Mal, é o capitão e comandante da nave Serenity. "Mal Reinolds" é uma espécie de “cowboy-pirata do espaço” que utiliza sua nave para viver como fora da lei. Tem uma personalidade contraditória e as vezes durona, no entanto participou como sargento da última batalha no Vale Serenity, demonstrando assim um passado idealista. Sempre enigmático, possuí um relacionamento mal resolvido com Inara. Sua marca é uma mistura truculência e piadinhas sarcásticas.
Zoe Alleyne Washburne: interpretada por Gina Torres, é o segundo imediato a bordo da Serenity, amiga dos tempos de guerra do Capitão Reynolds, e mulher de Wash.
Hoban "Wash" Washburne: interpretado por Alan Tudyk, é o piloto da Serenity e o marido de Zoe. Piloto habilidoso tem como seu lema a frase “sou uma folha ao vento”. É um cara legal.
Jayne Cobb: interpretado por Adam Baldwin, é a força bruta contratada da nave. Quando se precisa entrar numa briga ou tiroteio Jayne é cara.
Inara Serra: (ah, Inara!) interpretada por Morena Baccarin (atriz brasileira), é uma acompanhante de alto status social. Ela e Mal tem uma relação complexa e mal resolvida.
"Kaylee" Frye: interpretada por Jewel Staite, é a mecânica da nave. É apaixonada pelo Dr. Simon e uma espécie de irmã adotiva de Mal. Por sua sensibilidade as vezes atua metaforicamente como a consciência de Mal.
Dr. Simon Tam: interpretado por Sean Maher, é um pesquisador médico e cirurgião de trauma de primeiro calibre. Super protetor em relação a sua irmã River, o médico geralmente entra em conflito com Mal.
River Tam: interpretada por Summer Glau, foi contrabandeada a bordo da nave por seu irmão. É uma das pricipais personagens do filme e devido ao fato de ser cobaia em laboratórios do governo, sofre de uma espécie de esquizofrenia, podendo até ser violenta em casos especiais. Olha o que eu digo, a magrelinha é super boa de briga e uma das chaves da trama da história.

O filme tem a presença de alguns elementos de wester, como por exemplo, nas paisagens periféricas que contrastam com outros ambientes futuristas. Isto se deve justamente pelo diretor ter uma certa feição ao clima periférico do cenário americano – o velho oeste e seus forasteiros. Um aspecto marcante do filme é tambem demostrar o lado dos derrotados, aqueles que rejeitaram o modo de vida dominante do Sistema, muitas vezes vivendo de trambiques e pequenos assaltos como foras da lei. Fazendo do filme, neste caso, uma espécie de wester do espaço, elemento muito bem sucedido nos filmes de ficção científica.
Então pessoal, é isto que se apresenta no longa metragem "Serenity – A luta pelo Amanhã", um filme que concerteza tem seu lugar de destaque no cenário dos filmes de ficção científica. Escrito e dirigido pelo criativo e perseverante Joss Whedon demonstrando de forma verdadeira e pura que nunca devemos desistir de nossos sonhos e projetos e com isso realizar um bom trabalho.

Ah! E se alguns dos personagens de Serenity parecer com alguém que você conheça na vida real, isto é apenas uma mera coincidência!!! Ou não!!!

Abraços do Max

sábado, 26 de março de 2011

Sucker Punch

Samurais gigantes, nazistas zumbis, dragões, orcs e robôs e, principalmente, mulheres semi-nuas armadas até os dentes! Eis que Zack Snyder nos traz mais um filme esplêndido. Muito bem fotografado em que se dá ênfase nos tons escuros e cinzentos, o diretor novamente mostra que tem talento.
Pra quem não conhece, Zack Snyder começou como diretor de videoclipes e estreiou nas telonas com um filme que todo fã de terror não queria que tivesse acontecido: o remake de Dawn Of The Dead (lançado por aqui como Madrugada dos Mortos), como refilmagem não funcionou mas como mais um filme de zumbis, deu totalmente certo. Depois disso ele dirigiu duas obras-primas, na minha opinião: 300 e Watchmen. Portanto, pra quem viu 300 e Watchmen, sabe o que esperar de Sucker Punch, ou seja, um filme feito, na maior parte, com imagens digitalizadas. Dependendo do filme, isso seria um tanto quanto tedioso, mas não fica com Sucker Punch, porque não teria como passar tanta surrealidade de forma "humana".
A história do filme é a seguinte: Baby Doll (Emily Browning) é uma garota mandada para o hospício pelo violento padrasto. Com a ajuda de suas novas amigas, decide fugir do ambiente inóspito e conquistar a almejada liberdade. No intuito de proteger-se contra os males mundanos que a cercam, a jovem cria um mundo de fantasias, um universo dominado pela sua mente criativa, no qual a vitória diante de guerreiros mais fortes e poderosos é possível.
Mundo alternativo criado pela mente, criaturas estranhas, luta pela sobrevivência? Não faz lembrar de Alice no País das Maravilhas? Pois foi isso um dos fatores que me chamou pra ver o filme. Outro fator foi a propaganda feita pelo filme, foi tudo muito bem divulgado e antes da estreia do filme foram lançados alguns curtas contando origens de alguns personagens, o que me deixou mais empolgado pra ver logo. Sem contar a trilha sonora, num trailer tocou Led Zeppellin!
Sucker Punch é ótimo no quesito visual (o que já falei acima); nos efeitos especiais, as lutas são sensacionais, eu dispiroquei na luta contra os samurais gigantes, fiquei totalmente boquiaberto mesmo, sem contar que a câmera lenta que ele usa (marca registrada do diretor) não fica cansativa; na trilha sonora que conta com a participação da atriz Emily Browning em 3 músicas; na escolha do elenco, Emily Browning de roupas curtas, Carla Gugino lindíssima como sempre, Jena Malone também é muito linda e tem também o fodão do Scott Glenn no elenco; e a história que, mesmo com um roteiro um tanto quanto forçado em alguns momentos e previsível em outros, me deixou surpreso, principalmente no final (realmente como Zack Snyder falou antes do filme lançar). Eu sai da sala com vontade de ver de novo e imaginando como será o Superman do Zack Snyder, fiquei doido.
Tenho certeza que você, caro leitor, se gostou de 300 e Watchmen, provavelmente irá gostar de Sucker Punch.

OBS: Sucker Punch é um soco inesperado, quem recebe o soco não tem tempo em se preparar para a defesa. Só vendo o filme mesmo pra entender o porquê que levou esse nome.
Ah, mais uma coisa, até agora eu achei o melhor filme do ano. Sorte do Zack Snyder que não foi lançado junto com Thor, Capitão América e Lanterna Verde. =)

Adriano Mendes

terça-feira, 8 de março de 2011

Crítica: A Origem (ou a falta de Criatividade)

Não compreendo como a maioria dos cinéfilos admiram e elogiam o mais recente filme de Christopher Nolan – “A Origem” (Inception, 2010). Talvez seja devida a popularidade que o filme “O Cavaleiro das Trevas” tenha proporcionado ao diretor. Ou talvez pelo motivo de como a temática dos sonhos aguça nossa curiosidade e imaginação. Entretanto, não posso admitir que o filme “A Origem” seja um exemplo de criatividade e inovação. Confesso que até o momento, admirava alguns trabalhos de Christopher Nolan e estava com certa expectativa sobre o lançamento de um filme de ficção científica sob sua autoria. Fui à estréia do filme, com a esperança de assistir um bom filme de ficção científica (a carência sempre foi meu forte, hehehe). E o resultado não foi outro: em vez de “inception” o que vi foi “deception”, ou seja, decepção! O filme estava abaixo das minhas expectativas.
Não, realmente em hipótese alguma o filme demonstrou algum aspecto de criatividade. Para quem não conhece a temática dos sonhos, esta já é bem conhecida na história dos cinemas. Não ouso dizer que se trata de um plágio, mas a temática do filme é muito semelhante a um clássico oitentista da ficção científica chamado “A Morte nos Sonhos” (Dreamscape, 1984). Mas com uma pequena diferença, o filme “A Morte nos Sonhos” é realmente um filme criativo e trabalha com mais propriedade o imaginário dos sonhos e dos pesadelos (farei um artigo posteriormente sobre este filme). Dizem as más línguas que o filme "A Origem" até se parece com uma histórinha em quadrinhos do “Tio Patinhas”, onde os irmãos metralhas usam uma máquina do professor pardal para entrar nos sonhos do "pato avarento" e roubar seus códigos secretos. Por falar nisso a construção da trama de ladrões lembra muito o filme “Onze Homens e um Segredo” (2001), mas não vou entrar nesses detalhes.

....................Esta cena lhes parecem familiar?.......................


Aliás esta temática já esteve presente em filmes como “A Cela” (2000), e outros filmes que questionam a realidade como “A Cidade das Sombras” (1998), e no quase esquecido “13º Andar” (1999), confesso que estes dois últimos merecem um artigo especial para o gênero ficção-científica. Muito mais conhecido e popular é Matrix (1999). Este sim aparece constantemente no filme de Christopher Nolan, com suas cenas de ação, muitos tiros e efeitos especiais em câmera lenta. Por falar nisso, acho que Christopher Nolan tem certa inveja em relação à Matrix e também um certo problema em relação à proporção de “tamanho das coisas”. Enquanto em Matrix o menininho careca entortava uma colher com a força da mente, em seu filme a menininha atriz entorta uma cidade inteira. A atriz Ellen Page (tosquinha) estava tão perdida no filme que parece até debochar da trama. Contudo, os efeitos especiais são muito bons, mas não trazem nenhuma novidade no gênero. A trilha sonora é boa, atrapalhada pela barulheira de tiros (estava no cinema) que me deram dor de cabeça.
Mais uma observação: da pouca experiência que tenho com sonhos, geralmente estes não são tão arquitetados, arrumadinhos e com seqüências lógicas como tenta se esforçar o diretor em descrevê-los durante a narrativa. No filme os sonhos são todos iguais, não tem pesadelos, não se diferenciam quanto à personalidade, tem as mesmas tonalidades de cores e respondem as mesmas seqüências programadas da sinapse cerebral (matemática? Ui). O enredo é até um pouco comovente e sensível (mas cheio de falhas), e o ator Leonardo di Caprio se esforça muito aproveitando seu personagem do Filme “A Ilha do Medo” para enfatizar a trama.
Uma hipótese para o sucesso de bilheteria e de público para “A Origem” se deve, em minha opinião, ao fato de o público que assistiu ainda serem jovens ou de terem pouco conhecimentos sobre ficção-científica e também sobre a temática de filmes sobre sonhos. Na maioria, reverberando apenas o mais conhecido filme, ou seja, Matrix (este com muitas cópias de outros filmes). Ao que parece este filme tem a vantagem de atingir este público, dos quais já fiz parte um dia. Infelizmente estou velho, rabugento, assistindo a filmes como “No Country for Old Men” dos irmão Coen. Para finalizar postarei uma frase muito presente no filme “13º Andar”, comparada com as mil e duzentas do filme “A Origem”, ela é muito mais sensível e profunda, ou seja, a frase diz: “A ignorância é uma benção”. Saudades da minha.

Abraços do Max

segunda-feira, 7 de março de 2011

O ENIGMA DO HORIZONTE (Event Horizon, 1997) – Direção: Paul Anderson



Por meio de seu roteiro instigante e assustador o longa metragem intitulado em português “O Enigma do Horizonte”, possui a façanha de prender seus telespectadores em uma cadeia sucessiva de elementos que combinam ficção-científica, suspense e terror. Sim (ou Yes, como diriam meus amigos que sabem falar inglês), o filme é uma espécie de combinação de três gêneros cinematográficos num só. A projeção gradativa do filme, de forma crescente e instintiva, contribui de forma sempre enigmática a cadeia de aspectos mais aterrorizantes que os futuros tripulantes da Event Horizon poderiam sequer imaginar. Eis aí onde a imaginação se torna perigosa, pois ela revelará aos personagens da trama os segredos mais tenebrosos de suas mente, ou seja, – “a escuridão de dentro de si”.
Então ta – diria eu. Mas o que isso significa? Eis a questão – diria eu novamente. Significa precisamente os piores medos e pesadelos do ser humano, escancarados numa suspensão entre ficção e realidade, entre o imaginário do desespero e a dor física da carne. Eis, pois, o que o diretor Paul Anderson (em seu segundo longa) pretende nos revelar – o inferno! Entretanto, no filme, o alter-ego maligno da trama refutará essa infantil hipótese, dizendo com voz sinistra - “nãooooo, o ‘inferno’ é apenas uma palavra”.
O filme, além de assustador, se torna interessante devidamente por sua peculiaridade, entretanto, não confundam “peculiaridade” com “criatividade”. A famosa combinação entre ficção-científica, suspense e terror não é de todas uma novidade na história do cinema. O representante mor da categoria, para lembrar-mos de um clássico da ficção-científica se passa no filme “Alien – O Oitavo Passageiro”, cuja passagem de cenas gradativas de ficção-científica suspense e terror numa mesma trama já era muito bem representada neste clássico do cinema. O próprio diretor Paul Anderson comenta que o filme “Alien” foi sua principal influência para desenvolver a trama do filme. Entretanto, o diretor de “O Enigma do Horizonte” não queria realizar somente mais um filme de monstro do espaço, pois este já existia há algum tempo e era definitivamente insubstituível no cenário da ficção cientifica. Daí surgiu à idéia de substituir o terror empreendido pela criatura monstro de “Alien” pela misteriosa figura fantasmagórica de uma “entidade sobrenatural” cuja finalidade é despertar os pesadelos mais profundos enraizados na mente humana. Como o próprio diretor sugeriu, um dos objetivos de “O Enigma do Horizonte” é escancarar o “terror psicológico” desenvolvido pelo filme no decorrer da trama. Neste aspecto o diretor foi fortemente influenciado pelo clássico do terror - “O Iluminado” de Kubrick.
Bem sucedido na façanha de transportar este clima de “terror fantasmagórico” a um cenário de ficção científica, o diretor Paul Anderson conseguiu criar, em minha opinião, um futuro clássico da ficção. Mesmo que sua repercussão tenha sido baixa na época de seu lançamento (e ainda é), lembremos que o próprio filme de Kubrick teve baixa repercussão quando lançado. Entretanto, nada impediu atualmente que o filme seja considerado um dos maiores suspenses de terror já lançado na história do cinema.
Mas chega de falar de conjecturas, falarei, pois, o que interessa, e o que interessa nesse momento aos presentes leitores desse artigo é a história do filme. Analiticamente, como demonstrarei, a divisão dos gêneros é aparentemente muito bem desenhada, sendo a ficção-científica característica marcante do começo do filme, gradativamente transformada em suspense na parte mediana da película, para logo depois se desenvolver (e aí meu irmão o bicho pega) para as piores cenas de terror reunidas num filme de ficção-científica.

Parte 1 - FICÇÃO-CIETÍFICA: O ano é 2047. Depois de 7 anos desaparecida a nave de pesquisa Event Horizon reaparece na atmosfera de Netuno. Um sinal misterioso é emitido pela nave e detectado pelo Comando Aeroespacial dos EUA. O comando envia um missão com especialistas em resgates espaciais, a tripulação é comandada pelo capitão Miller (Lawrence Fishburne, excelente) e mais seis tripulantes, entre eles o próprio criador da nave o Dr. Weir (Sam Neill, excelente). Sua missão é encontrar e resgatar a espaçonave de última geração e sua tripulação perdida.
O filme começa com o Dr. Weir acordando dentro de uma estação espacial na órbita da Terra. Nesse momento já temos alguns indícios dos pesadelos do cientista. Nesse momento a câmera se afasta de forma espiral por fora da grande Estação Espacial, proporcionando uma sensação de vertigem, conseqüências da indefinição do plano espacial. Os elementos de ficção-científica estão sempre presentes, seja na linguagem científica da tripulação, seja no manuseio de tecnologias espaciais avançadas. Depois de despertarem da hibernação durante a viagem a tripulação se reúne no centro da nave de resgate, para conhecerem e discutirem a nova missão. O Dr. Weir explica que se trata de uma missão de resgate da nave Event Horizon, cuja finalidade era criar um buraco negro artificial no espaço para encurtar as viagens distantes fora do sistema solar, por meio de uma fenda espacial. Depois do clima tenso, o Dr. Weir explica que a nave ressurgiu depois de ter desaparecido sem deixar vestígios à alguns anos. O reaparecimento ocorreu por meio de um sinal misterioso onde se escutam apenas alguns gritos e gemidos. Um dos tripulantes consegue identificar uma mensagem em latim equivocadamente traduzida e que, posteriormente, terá uma significação importante na trama do filme. Depois da chegada turbulenta na órbita de Netuno (assustador) com um nevoeiro atmosférico horripilante, eis que aparece a misteriosa nave Event Horizon.

Parte 2 – SUSPENSE: A nave de resgate se prepara para se acoplar. Por fora a Event Horizon tem uma arquitetura magnífica, inspiradas nas catedrais góticas da Europa, bom trabalho do desenhista. Nesse momento a trilha sonora começa a demonstrar seus efeitos. Por dentro a nave é tão sinistra quanto por fora, misturando alta tecnologia com os aspectos sinistros do imaginário gótico. A primeira equipe de resgate ao entrar na nave se depara com uma atmosfera congelante, a falta de gravidade e a escuridão reforçam o clima de suspense. Aparentemente a nave não tem sobreviventes, mas alguns indicadores de vida parecem emitir sinal por toda nave. Um dos tripulantes (o cara bonzinho) fica próximo da esfera responsável por criar o buraco negro artificial. Um evento enigmático desencadeia uma onda magnética que causa diversos danos, principalmente a nave de resgate que agora tem que ser reparada. Um dos tripulantes fica em estado de choque depois de ser sugado pela grande esfera no centro da nave. Sem pressurização na nave de resgate, a equipe se vê obrigada a se recolher para dentro da grande nave sinistra, enquanto verificam que o oxigênio dessa nave é escasso o que aumenta ainda mais a tensão da trama. Enquanto a tripulação de regate tenta descobrir o que aconteceu com a nave e sua antiga tripulação alguns eventos "estranhos" começam a ocorrer. A tripulação é assombrada por visões aterradoras. O capitão Miller revê seu antigo colega morto durante um incêndio, a médica tem visões de seu filho com diversas feridas e úlceras nas pernas, enquanto o Dr. Weir parece ser assombrado por sua mulher falecida. A nova tripulação não sabe se o que estão vendo é apenas uma alucinação de suas cabeças ou se tem algo de estranho ocorrendo no interior da nave. O Dr. Weir que construiu a nave não tem explicações lógicas para os fenômenos. Mais um evento aumenta o nível de suspense. Um dos integrantes que estava em coma desperta e tenta se abortar na zona de pressurização. Quando toma consciência de seu ato a área de pressurização começa a ser aberta e o tripulante começa a sentir os efeitos físicos de ser lançado no espaço. A nova tripulação tenta descobrir o que esta acontecendo, enquanto um dos tripulantes descobre que decifrou erroneamente a mensagem em latim, o que antes parecia dizer “liberate me” (salve-me), na verdade dizia “liberate tutume ex inferis” (salve-se do inferno). Logo depois a equipe de resgate fica sabendo por meio do diário de bordo o que realmente aconteceu com a antiga tripulação. Ao ultrapassarem a passagem aberta pela nave no espaço – a antiga tripulação se envolveu numa verdadeira orgia sangrenta (uma das cenas mais fortes do filme, vejam em cenas marcantes no final do artigo). Aí começa o terror.

Parte 3 – TERROR: Agora sabendo o que aconteceu com antiga tripulação a nova tripulação da Event Horizon não quer ter esse mesmo destino. Após descobrir que não existe mais nenhum sinal de vida na nave a não ser a própria que parece responder a cada ato da tripulação, os integrantes começam a recolher oxigênio para fugir pela nave de resgate que nesse momento já foi reparada. Entretanto, a Event Horizon criou vida e não se sabe ao certo o que ela trouxe da “outra dimensão” em que esteve. Alguns tripulantes passam a ser dominados psicologicamente pela nave, principalmente o Dr. Weir que demonstrava certo apego pela nave que construiu. Nos próximos minutos começam uma verdadeira carnificina, com alguns tripulantes sendo mortos de forma brutal. O Dr. Weir (nesse momento sem os olhos) parece ter sido possuído pelo "alter-ego maligno" da nave, distribuindo terror e explodindo a nave de resgate. A luta pela sobrevivência se intensifica e as execuções parecem serem inevitáveis nesse momento. Numa tentativa de combater o então diabólico Dr. Weir a tripulação consegue lançá-lo pelo espaço numa cena muito parecida com o final do filme “Alien – o Oitavo Passageiro”. Mas o terror não acaba, o alter-ego maligno da nave ainda continua presente e iniciou a abertura do núcleo da nave, onde será aberto um portal para a “outra dimensão”. E agora eu pergunto, será que alguém sobreviverá? Neste momento percebe-se que o diretor Paul Anderson faz algumas alterações no roteiro. No primeiro momento estranhei algumas colocações, como a volta do alter-ego maligno incorporado no Dr. Weir (agora com os olhos que por sinal são assustadores). Mas a grande sacada do diretor foi fugir dos clichês de que os protagonistas sobrevivem. O confronto final entre o capitão Miller e o alter-ego da nave revelam esses detalhes. Nesse momento aparecem uma das cenas fortes do filme quando o capitão tem uma visão de futuras torturas cometidas a sua tripulação na “outra dimensão” (vejam em cenas marcantes). Mas será que conseguirá sobreviver? Neste momento a sensação que o filme proporciona é que não existe esta possibilidade, mas agora vocês têm que assistir para descobrir o final.

COMENTÁRIO FINAL: O diretor Paul Andersom teve alguns problemas em realizar a edição do filme. Teve que encurtar muitas cenas para atender as exigências da indústria e dos produtores. Infelizmente, essa atitude “marcaria” a seqüência de filmes do diretor – com forte apelo comercial e pouco conteúdo no desenvolvimento da trama. Mas “O Enigma do Horizonte” consegue fugir a regra.
A atuação de Lawrence Fishburne é perfeita, mesmo antes de realizar o sucesso com o personagem Morfeu de Matrix, o ator demonstra que era um dos melhores atores em atividade nesse período. O ator Sam Neill complementa de forma profissional a figura do Dr. Weir, mostrando ser um ator sempre marcante em seus filmes. O resto do elenco desempenham bem seus papéis, mostrando que para se fazer um bom filme não é necessário apelar para clichês que colocam “gatinhos” e “gatinhas” como protagonistas. A trilha sonora é traço marcante e muito bem realizada, misturando elemento de música eletrônica com elementos de orquestra sinfônica, o que complementou a atmosfera sinistra da Event Horizon. A equipe da trilha sonora é mesma que trabalhou com o diretor no seu primeiro filme “Mortal Kombat” que fez muito sucesso com sua trilha sonora.

CENAS MARCANTES: uma das cenas fortes do filme é a que se passa na “outra dimensão” ou no “inferno” – revelados pela nave. A cena do diário de bordo da antiga tripulação é muito forte, uma verdadeira orgia sanguinolenta com diversas mutilações e crueldades. Outra cena, agora no final, que mostram as torturas do inferno são passadas em fleches rápidos, foram cortadas pois os produtores temiam que o filme tivesse censura para menores (o dinheiro, sempre o dinheiro). Uma pena, pois com essas cenas com certeza o filme estaria no alto da galeria de filmes fortemente assustadores. Mesmo assim a essência do filme continua impactando, as torturas lembram muito as cenas do “inferno” de Hellraiser, que com certeza foi uma das influências do diretor. : D

Abraços do Max