segunda-feira, 18 de abril de 2011
Do You Like Scary Movies?
domingo, 17 de abril de 2011
“Doze homens e uma sentença” e o ofício do cinema
Sabrina Demozzi
Primeiro é o filme. E depois a paixão que torna “Doze homens” um dos filmes mais memoráveis de todos os tempos
Pra começar a falar desse filme vou citar uma canção que Maria Bethânia interpreta como ninguém, trata-se da música “Sete Trovas” dos autores Consuelo de Paula, Etel Frota e Rubens Nogueira. Nessa música fala-se do que significa o ofício da música, como podemos ver nos versos a seguir:
“A canção é meu pecado
Minha dor e redenção
Meu brinquedo, meu reisado
O meu bocado de pão
A canção é meu estado
Minha sina, distração
Meu folguedo, meu congado
Meu cajado, profissão... “
Uma sorte. Um presente. Continua a linda letra que vai ilustrar o que é a canção para quem a ama e torna disso seu trabalho. E é aqui que começo a falar de Sidney Lumet. Um trabalhador do cinema. Um homem que nos deu “Doze homens e uma sentença” uma das maiores obras-primas da cinematografia. Um daqueles filmes que não dá pra gente morrer sem ver. Além é claro de todas as outras belezas que ele realizou.
Esse filme é de 1957 e o título original é “12 Angry Men”. No elenco, estrelas como Henry Fonda, Martin Balsam, Lee J. Cobb e Jack Warden dividem as atenções. Um filme cuja sinopse resume o filme como “Doze jurados devem decidir se um homem é culpado ou não de um assassinato, sob pena de morte. Onze têm plena certeza que ele é culpado, enquanto um não acredita em sua inocência, mas também não o acha culpado. Decidido a analisar novamente os fatos do caso, o jurado número 8, representado por Henry Fonda, não deve enfrentar apenas as dificuldades de interpretação dos fatos para achar a inocência do réu, mas também a má vontade e os rancores dos outros jurados, com vontade de irem embora logo para suas casas.”
Lee J. Cobb, um ótimo ator, é o jurado de número 3 e é um dos personagens que mais me dá nos nervos. Ele grita demais, é racista e preconceituoso. É uma tortura quando ele está em cena. Sempre penso nisso quando vejo esse filme. Já o Henry Fonda que interpreta o jurado número 8 é a elegância em pessoa, fala baixo, de forma coerente. Como um Sócrates moderno ele instiga os demais jurados a fugirem das convicções recém formadas e a pensarem melhor. “E se não for bem assim?”.
Esse filme para mim, fora todos os méritos cinematográficos que possam existir, é um dos filmes que todos deveriam assistir por questionar o que já está estabelecido, o que já está decidido. Não estou pregando a anarquia, mas sim a argumentação, o pensamento e a inteligência.
E é só quem faz da sua vida seu ofício e vice-versa que consegue transmitir isso com tamanha precisão. Como fez Lumet. Ele era um observador da realidade e das pessoas, conseguia como poucos transportar para as telas os tipos de pessoas sem cair na caricatura ou falsidade, era um gênio. Seus atores pareciam nascer para os papéis e nós sem querer nos solidarizávamos com os piores tipos, torcíamos pelos bandidos, porque eles não eram tão ruins assim. E quem se identifica, reconhece.
“Doze homens” é um daqueles filmões que não existem mais. Quem faria um filme cujo enredo se passa, a maior parte do tempo, em uma sala onde jurados estão reunidos? Sem saudosismo, acho Lumet essencial não só para quem gosta de cinema, mas todos que levam seu ofício a sério. Não importa qual seja. Esse filme é uma das maiores mostras de que há gente que nasceu para determinado trabalho e se apaixonar pelo que faz é conseqüência, assim eu finalizo esse texto perguntando: qual é seu ofício?