segunda-feira, 7 de março de 2011

O ENIGMA DO HORIZONTE (Event Horizon, 1997) – Direção: Paul Anderson



Por meio de seu roteiro instigante e assustador o longa metragem intitulado em português “O Enigma do Horizonte”, possui a façanha de prender seus telespectadores em uma cadeia sucessiva de elementos que combinam ficção-científica, suspense e terror. Sim (ou Yes, como diriam meus amigos que sabem falar inglês), o filme é uma espécie de combinação de três gêneros cinematográficos num só. A projeção gradativa do filme, de forma crescente e instintiva, contribui de forma sempre enigmática a cadeia de aspectos mais aterrorizantes que os futuros tripulantes da Event Horizon poderiam sequer imaginar. Eis aí onde a imaginação se torna perigosa, pois ela revelará aos personagens da trama os segredos mais tenebrosos de suas mente, ou seja, – “a escuridão de dentro de si”.
Então ta – diria eu. Mas o que isso significa? Eis a questão – diria eu novamente. Significa precisamente os piores medos e pesadelos do ser humano, escancarados numa suspensão entre ficção e realidade, entre o imaginário do desespero e a dor física da carne. Eis, pois, o que o diretor Paul Anderson (em seu segundo longa) pretende nos revelar – o inferno! Entretanto, no filme, o alter-ego maligno da trama refutará essa infantil hipótese, dizendo com voz sinistra - “nãooooo, o ‘inferno’ é apenas uma palavra”.
O filme, além de assustador, se torna interessante devidamente por sua peculiaridade, entretanto, não confundam “peculiaridade” com “criatividade”. A famosa combinação entre ficção-científica, suspense e terror não é de todas uma novidade na história do cinema. O representante mor da categoria, para lembrar-mos de um clássico da ficção-científica se passa no filme “Alien – O Oitavo Passageiro”, cuja passagem de cenas gradativas de ficção-científica suspense e terror numa mesma trama já era muito bem representada neste clássico do cinema. O próprio diretor Paul Anderson comenta que o filme “Alien” foi sua principal influência para desenvolver a trama do filme. Entretanto, o diretor de “O Enigma do Horizonte” não queria realizar somente mais um filme de monstro do espaço, pois este já existia há algum tempo e era definitivamente insubstituível no cenário da ficção cientifica. Daí surgiu à idéia de substituir o terror empreendido pela criatura monstro de “Alien” pela misteriosa figura fantasmagórica de uma “entidade sobrenatural” cuja finalidade é despertar os pesadelos mais profundos enraizados na mente humana. Como o próprio diretor sugeriu, um dos objetivos de “O Enigma do Horizonte” é escancarar o “terror psicológico” desenvolvido pelo filme no decorrer da trama. Neste aspecto o diretor foi fortemente influenciado pelo clássico do terror - “O Iluminado” de Kubrick.
Bem sucedido na façanha de transportar este clima de “terror fantasmagórico” a um cenário de ficção científica, o diretor Paul Anderson conseguiu criar, em minha opinião, um futuro clássico da ficção. Mesmo que sua repercussão tenha sido baixa na época de seu lançamento (e ainda é), lembremos que o próprio filme de Kubrick teve baixa repercussão quando lançado. Entretanto, nada impediu atualmente que o filme seja considerado um dos maiores suspenses de terror já lançado na história do cinema.
Mas chega de falar de conjecturas, falarei, pois, o que interessa, e o que interessa nesse momento aos presentes leitores desse artigo é a história do filme. Analiticamente, como demonstrarei, a divisão dos gêneros é aparentemente muito bem desenhada, sendo a ficção-científica característica marcante do começo do filme, gradativamente transformada em suspense na parte mediana da película, para logo depois se desenvolver (e aí meu irmão o bicho pega) para as piores cenas de terror reunidas num filme de ficção-científica.

Parte 1 - FICÇÃO-CIETÍFICA: O ano é 2047. Depois de 7 anos desaparecida a nave de pesquisa Event Horizon reaparece na atmosfera de Netuno. Um sinal misterioso é emitido pela nave e detectado pelo Comando Aeroespacial dos EUA. O comando envia um missão com especialistas em resgates espaciais, a tripulação é comandada pelo capitão Miller (Lawrence Fishburne, excelente) e mais seis tripulantes, entre eles o próprio criador da nave o Dr. Weir (Sam Neill, excelente). Sua missão é encontrar e resgatar a espaçonave de última geração e sua tripulação perdida.
O filme começa com o Dr. Weir acordando dentro de uma estação espacial na órbita da Terra. Nesse momento já temos alguns indícios dos pesadelos do cientista. Nesse momento a câmera se afasta de forma espiral por fora da grande Estação Espacial, proporcionando uma sensação de vertigem, conseqüências da indefinição do plano espacial. Os elementos de ficção-científica estão sempre presentes, seja na linguagem científica da tripulação, seja no manuseio de tecnologias espaciais avançadas. Depois de despertarem da hibernação durante a viagem a tripulação se reúne no centro da nave de resgate, para conhecerem e discutirem a nova missão. O Dr. Weir explica que se trata de uma missão de resgate da nave Event Horizon, cuja finalidade era criar um buraco negro artificial no espaço para encurtar as viagens distantes fora do sistema solar, por meio de uma fenda espacial. Depois do clima tenso, o Dr. Weir explica que a nave ressurgiu depois de ter desaparecido sem deixar vestígios à alguns anos. O reaparecimento ocorreu por meio de um sinal misterioso onde se escutam apenas alguns gritos e gemidos. Um dos tripulantes consegue identificar uma mensagem em latim equivocadamente traduzida e que, posteriormente, terá uma significação importante na trama do filme. Depois da chegada turbulenta na órbita de Netuno (assustador) com um nevoeiro atmosférico horripilante, eis que aparece a misteriosa nave Event Horizon.

Parte 2 – SUSPENSE: A nave de resgate se prepara para se acoplar. Por fora a Event Horizon tem uma arquitetura magnífica, inspiradas nas catedrais góticas da Europa, bom trabalho do desenhista. Nesse momento a trilha sonora começa a demonstrar seus efeitos. Por dentro a nave é tão sinistra quanto por fora, misturando alta tecnologia com os aspectos sinistros do imaginário gótico. A primeira equipe de resgate ao entrar na nave se depara com uma atmosfera congelante, a falta de gravidade e a escuridão reforçam o clima de suspense. Aparentemente a nave não tem sobreviventes, mas alguns indicadores de vida parecem emitir sinal por toda nave. Um dos tripulantes (o cara bonzinho) fica próximo da esfera responsável por criar o buraco negro artificial. Um evento enigmático desencadeia uma onda magnética que causa diversos danos, principalmente a nave de resgate que agora tem que ser reparada. Um dos tripulantes fica em estado de choque depois de ser sugado pela grande esfera no centro da nave. Sem pressurização na nave de resgate, a equipe se vê obrigada a se recolher para dentro da grande nave sinistra, enquanto verificam que o oxigênio dessa nave é escasso o que aumenta ainda mais a tensão da trama. Enquanto a tripulação de regate tenta descobrir o que aconteceu com a nave e sua antiga tripulação alguns eventos "estranhos" começam a ocorrer. A tripulação é assombrada por visões aterradoras. O capitão Miller revê seu antigo colega morto durante um incêndio, a médica tem visões de seu filho com diversas feridas e úlceras nas pernas, enquanto o Dr. Weir parece ser assombrado por sua mulher falecida. A nova tripulação não sabe se o que estão vendo é apenas uma alucinação de suas cabeças ou se tem algo de estranho ocorrendo no interior da nave. O Dr. Weir que construiu a nave não tem explicações lógicas para os fenômenos. Mais um evento aumenta o nível de suspense. Um dos integrantes que estava em coma desperta e tenta se abortar na zona de pressurização. Quando toma consciência de seu ato a área de pressurização começa a ser aberta e o tripulante começa a sentir os efeitos físicos de ser lançado no espaço. A nova tripulação tenta descobrir o que esta acontecendo, enquanto um dos tripulantes descobre que decifrou erroneamente a mensagem em latim, o que antes parecia dizer “liberate me” (salve-me), na verdade dizia “liberate tutume ex inferis” (salve-se do inferno). Logo depois a equipe de resgate fica sabendo por meio do diário de bordo o que realmente aconteceu com a antiga tripulação. Ao ultrapassarem a passagem aberta pela nave no espaço – a antiga tripulação se envolveu numa verdadeira orgia sangrenta (uma das cenas mais fortes do filme, vejam em cenas marcantes no final do artigo). Aí começa o terror.

Parte 3 – TERROR: Agora sabendo o que aconteceu com antiga tripulação a nova tripulação da Event Horizon não quer ter esse mesmo destino. Após descobrir que não existe mais nenhum sinal de vida na nave a não ser a própria que parece responder a cada ato da tripulação, os integrantes começam a recolher oxigênio para fugir pela nave de resgate que nesse momento já foi reparada. Entretanto, a Event Horizon criou vida e não se sabe ao certo o que ela trouxe da “outra dimensão” em que esteve. Alguns tripulantes passam a ser dominados psicologicamente pela nave, principalmente o Dr. Weir que demonstrava certo apego pela nave que construiu. Nos próximos minutos começam uma verdadeira carnificina, com alguns tripulantes sendo mortos de forma brutal. O Dr. Weir (nesse momento sem os olhos) parece ter sido possuído pelo "alter-ego maligno" da nave, distribuindo terror e explodindo a nave de resgate. A luta pela sobrevivência se intensifica e as execuções parecem serem inevitáveis nesse momento. Numa tentativa de combater o então diabólico Dr. Weir a tripulação consegue lançá-lo pelo espaço numa cena muito parecida com o final do filme “Alien – o Oitavo Passageiro”. Mas o terror não acaba, o alter-ego maligno da nave ainda continua presente e iniciou a abertura do núcleo da nave, onde será aberto um portal para a “outra dimensão”. E agora eu pergunto, será que alguém sobreviverá? Neste momento percebe-se que o diretor Paul Anderson faz algumas alterações no roteiro. No primeiro momento estranhei algumas colocações, como a volta do alter-ego maligno incorporado no Dr. Weir (agora com os olhos que por sinal são assustadores). Mas a grande sacada do diretor foi fugir dos clichês de que os protagonistas sobrevivem. O confronto final entre o capitão Miller e o alter-ego da nave revelam esses detalhes. Nesse momento aparecem uma das cenas fortes do filme quando o capitão tem uma visão de futuras torturas cometidas a sua tripulação na “outra dimensão” (vejam em cenas marcantes). Mas será que conseguirá sobreviver? Neste momento a sensação que o filme proporciona é que não existe esta possibilidade, mas agora vocês têm que assistir para descobrir o final.

COMENTÁRIO FINAL: O diretor Paul Andersom teve alguns problemas em realizar a edição do filme. Teve que encurtar muitas cenas para atender as exigências da indústria e dos produtores. Infelizmente, essa atitude “marcaria” a seqüência de filmes do diretor – com forte apelo comercial e pouco conteúdo no desenvolvimento da trama. Mas “O Enigma do Horizonte” consegue fugir a regra.
A atuação de Lawrence Fishburne é perfeita, mesmo antes de realizar o sucesso com o personagem Morfeu de Matrix, o ator demonstra que era um dos melhores atores em atividade nesse período. O ator Sam Neill complementa de forma profissional a figura do Dr. Weir, mostrando ser um ator sempre marcante em seus filmes. O resto do elenco desempenham bem seus papéis, mostrando que para se fazer um bom filme não é necessário apelar para clichês que colocam “gatinhos” e “gatinhas” como protagonistas. A trilha sonora é traço marcante e muito bem realizada, misturando elemento de música eletrônica com elementos de orquestra sinfônica, o que complementou a atmosfera sinistra da Event Horizon. A equipe da trilha sonora é mesma que trabalhou com o diretor no seu primeiro filme “Mortal Kombat” que fez muito sucesso com sua trilha sonora.

CENAS MARCANTES: uma das cenas fortes do filme é a que se passa na “outra dimensão” ou no “inferno” – revelados pela nave. A cena do diário de bordo da antiga tripulação é muito forte, uma verdadeira orgia sanguinolenta com diversas mutilações e crueldades. Outra cena, agora no final, que mostram as torturas do inferno são passadas em fleches rápidos, foram cortadas pois os produtores temiam que o filme tivesse censura para menores (o dinheiro, sempre o dinheiro). Uma pena, pois com essas cenas com certeza o filme estaria no alto da galeria de filmes fortemente assustadores. Mesmo assim a essência do filme continua impactando, as torturas lembram muito as cenas do “inferno” de Hellraiser, que com certeza foi uma das influências do diretor. : D

Abraços do Max

Um comentário:

  1. O Enigma do Horizonte é um filmaço. Muito bem filmado e os efeitos são ótimos. As cenas de torturas são esplêndidas.

    OBS: não suporto o Felipe Guerra.

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