domingo, 17 de abril de 2011

“Doze homens e uma sentença” e o ofício do cinema







Sabrina Demozzi

Primeiro é o filme. E depois a paixão que torna “Doze homens” um dos filmes mais memoráveis de todos os tempos

Pra começar a falar desse filme vou citar uma canção que Maria Bethânia interpreta como ninguém, trata-se da música “Sete Trovas” dos autores Consuelo de Paula, Etel Frota e Rubens Nogueira. Nessa música fala-se do que significa o ofício da música, como podemos ver nos versos a seguir:

“A canção é meu pecado

Minha dor e redenção

Meu brinquedo, meu reisado

O meu bocado de pão

A canção é meu estado

Minha sina, distração

Meu folguedo, meu congado

Meu cajado, profissão... “

Uma sorte. Um presente. Continua a linda letra que vai ilustrar o que é a canção para quem a ama e torna disso seu trabalho. E é aqui que começo a falar de Sidney Lumet. Um trabalhador do cinema. Um homem que nos deu “Doze homens e uma sentença” uma das maiores obras-primas da cinematografia. Um daqueles filmes que não dá pra gente morrer sem ver. Além é claro de todas as outras belezas que ele realizou.

Esse filme é de 1957 e o título original é “12 Angry Men”. No elenco, estrelas como Henry Fonda, Martin Balsam, Lee J. Cobb e Jack Warden dividem as atenções. Um filme cuja sinopse resume o filme como “Doze jurados devem decidir se um homem é culpado ou não de um assassinato, sob pena de morte. Onze têm plena certeza que ele é culpado, enquanto um não acredita em sua inocência, mas também não o acha culpado. Decidido a analisar novamente os fatos do caso, o jurado número 8, representado por Henry Fonda, não deve enfrentar apenas as dificuldades de interpretação dos fatos para achar a inocência do réu, mas também a má vontade e os rancores dos outros jurados, com vontade de irem embora logo para suas casas.”

Lee J. Cobb, um ótimo ator, é o jurado de número 3 e é um dos personagens que mais me dá nos nervos. Ele grita demais, é racista e preconceituoso. É uma tortura quando ele está em cena. Sempre penso nisso quando vejo esse filme. Já o Henry Fonda que interpreta o jurado número 8 é a elegância em pessoa, fala baixo, de forma coerente. Como um Sócrates moderno ele instiga os demais jurados a fugirem das convicções recém formadas e a pensarem melhor. “E se não for bem assim?”.

Esse filme para mim, fora todos os méritos cinematográficos que possam existir, é um dos filmes que todos deveriam assistir por questionar o que já está estabelecido, o que já está decidido. Não estou pregando a anarquia, mas sim a argumentação, o pensamento e a inteligência.

E é só quem faz da sua vida seu ofício e vice-versa que consegue transmitir isso com tamanha precisão. Como fez Lumet. Ele era um observador da realidade e das pessoas, conseguia como poucos transportar para as telas os tipos de pessoas sem cair na caricatura ou falsidade, era um gênio. Seus atores pareciam nascer para os papéis e nós sem querer nos solidarizávamos com os piores tipos, torcíamos pelos bandidos, porque eles não eram tão ruins assim. E quem se identifica, reconhece.

“Doze homens” é um daqueles filmões que não existem mais. Quem faria um filme cujo enredo se passa, a maior parte do tempo, em uma sala onde jurados estão reunidos? Sem saudosismo, acho Lumet essencial não só para quem gosta de cinema, mas todos que levam seu ofício a sério. Não importa qual seja. Esse filme é uma das maiores mostras de que há gente que nasceu para determinado trabalho e se apaixonar pelo que faz é conseqüência, assim eu finalizo esse texto perguntando: qual é seu ofício?

5 comentários:

  1. Como diriam "uma imagem vale mais que mil palavras"!

    abraços do Max

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  2. Huhu, primeiro post muito bom Sabrina. Me deu muita vontade de assistir esse filme, que não vi ainda =(

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  3. Ótimo filme! Ótimo post, Sabrina. Fiquei com vontade de assistir de novo o filme.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Assiti o original e gostei muito do remake também!!! Acho que as duas versões tem qualidades especiais!!! Com certeza um filme que marca...

    abraços do Max

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